sábado, 4 de setembro de 2010

Preconceito cultural

Não sei se a expressão "preconceito cultural" existe mesmo, mas eu venho querendo escrever sobre isso há uns dias. E ontem, com essa semana de orientação que a gente está tendo na universidade, surgiu esse assunto e acabei me inspirando um pouco pra escrever.
Numa dessas palestras, uma estudante de comunicação intercultural (ou algo assim) estava falando sobre a adaptação em um país diferente do nosso e o que podemos fazer pra melhorar isso. E ela trouxe coisas que eu vinha pensando há uns dias mesmo. Uma dessas coisas foi sobre largar os estereótipos dos lugares, no caso, da finlândia, pra conseguir se adaptar melhor. E é muito verdade isso!
Venho notando há um tempo que o pessoal latino, principalmente da américa, gosta muito de falar das coisas que são melhores nos seus países. Como as frutas daqui não são tão boas, como as carnes têm gosto diferente, como os finlandeses não falam muito e como faz frio mesmo no verão. Só que isso começou a me incomodar um pouco, porque mesmo eles não tendo frutas com as quais eu esteja acostumada, eles têm outras também boas, e mesmo a carne não sendo tão boa, os molhos são beeem bons e a gente nem sente o gosto da carne. E sobre os finlandeses, é muito interessante porque TODOS falam que eles são distantes e não abrem espaço pra novas pessoas, mas eu ainda não conheci nem unzinho antipático e que não fala... E com a palavra "todos" eu me refiro também aos europeus, que mesmo sendo bem menos "calientes" que nós, ficam tirando sarro dos finlandeses "fechados e distantes".
Só que o que parece pra mim é que as pessoas já tem o estereótipo pronto e só estão esperando uma oportunidade pra confirmar ele. E aí fica difícil pros pobres finlandeses se safarem... E não só os finlandeses. É muito interessante observar turistas que passaram por um lugar por uma semana dando dicas muito "confirmadas", do tipo "março é muito quente em tal país". O cara fica por cinco dias, de um único mês, de um único ano e em uma única cidade e consegue generalizar isso pra "março é muito quente no país inteiro". Fico chocada! hehehe Mas isso é o de menos. O pior é quando falam "o povo de tal país é muito (mal) educado". Imagina quantas pessoas que nasceram ou moram há bastante tempo na única (ou uma das únicas) cidade que o tal turista visitou por poucos dias ele realmente conheceu e, memso assim, já conseguiu tirar uma informação sobre um povo todo...
Pois é, é sobre essas coisas que a moça intercultural tava tentando nos dizer. "Abram a mente e dêem uma chance aos finlandeses" hehehe E eu tô tantando dar a minha...

Mas outra coisa totalmente diversa que também me motivou a escrever sobre isso foi algo que aconteceu com um futuro colega de mestrado. Ele é paquistanês e a universidade que ele escolheu foi a da Grécia. Ele foi tentar tirar o visto em março e o cônsul disse que não era pra tirar ainda, que podia ser em julho, pois levava 15 dias. Aí ele voltou em julho com todos os papéis e o cônsul disse que estava tudo certo e era pra buscar o visto em 15 dias. Então ele voltou em 15 dias e o cara disse pra ele trazer mais um outro papel. Aí ele trouxe e o côsul pediu mais outro. E ele levou e o cônsul resolveu pedir um mais difícil e completamente absurdo. Era algo como um reconhecimento do ministério da educação do diploma dele. Sendo que o diploma já era reconhecido. Só que isso levaria mais de um mês pra checar e não daria tempo de ele ir pra Grécia antes das aulas. Fora que claramente o cara tava tentando fazer ele não ir pra Grécia. Então meu colega falou com a coordenadora do nosso curso e ela ligou pro tal do cônsul, explicou a situação e o cara distorceu toooda a história, mas disse que dava pra resolver. Só que quando meu colega foi lá resolver, ele voltou atrás em tudo o que disse pra nossa coordenadora e disse que a culpa era do meu colega, que agora não dava mais pra conseguir visto porque ele não tinha feito a inscrição corretamente e teria que ser anulado (!!!). Resumindo, ainda tentaram falar com o cônsul: o professor responsável do curso, o reitor da universidade e o ministro da educação da Grécia. E nada! Aí desistiram e em um dia e meio conseguiram um visto pra ele ir pra Suécia e agora ele vai estudar lá. E o pior: depois de saber que meu colega tinha um visto pra Suécia, o cônsul da Grécia disse que só devolveria a papelada dele depois de ver o visto e se ele assinasse um papel dizendo que era culpa dele não ter conseguido o visto não do cônsul!
Isso me deixou basicamente enojada. Como uma única pessoa pode ter tanto poder e ser tão cara de pau?! Eu falei pro meu colega que ele devia reclamar pros diplomatas paquistaneses, mas parece que nossa coordenadora vai tentar fazer algo sobre isso... O cara era professor em uma universidade, largou tudo pra ir pro programa e quase que ele não consegue ir porque um grego resolveu que ele não devia entrar na Grécia! É um absurdo completo!

Bom, todas essas coisas me fazem pensar em ter cada vez mais cuidado com a forma como trato as pessoas e com os estereótipos. É difícil não ter nada pré-concebido, mas é bom pelo menos termos noção do que temos de preconceito pra tentarmos nos dar conta disso e tentar bloquear um pouco... E, se possível, se livrar deles! :D

7 comentários:

  1. Pois é, assim como generalizam pelo mundo que as brasileiras são prostitutas, que aqui só tem carnaval e um bando de índio correndo pelado pela floresta!!! Essa coisa dos esteriótipos é bem complicada mesmo!!! Mas é bem legal vocês terem a oportunidade de discutir isso na universidade!!!

    Em relação ao teu colega do Paquistão... que absurdo!!! Só de ler já fiquei indignada com o tal cônsul que tem o rei na barriga!!! Imagina se ele perdesse a bolsa!?!?!?!?!?!?! Bem que eu te disse que preferia a Suécia, né!?!?! hehehehe

    Um beijão da Mocre!!!

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  2. ótimo Post Jana!!!
    É difícil mesmo não ter pré-conceitos, mas apenas o fato de refletir sobre isso e tentar agir com a cabeça mais aberta, já te faz muito mais especial que a maioria!!!
    E agora, aproveitando os papis/mamis??
    Enjoy!!!
    Kisses

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  3. Excelente reflexão, Bananinha! É bem por aí mesmo... E vale pra tudo. A gente tem que cuidar muito com essas coisas pra não acabar sendo o cônsul grego de alguém. Muito orgulho de ti! ;)
    Beijo beijo!

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  4. Engraçado que esse post foi um dos melhores, mas um dos que teve menos comentários... Difícil tocar na ferida, né? Dá o que pensar.

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  5. Pois é, eu tava quase me arrependendo de ter escrito, mas pelas estatísticas do blog, só 6 pessoas olharam esse post, então só metade não comentou...

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  6. Tá, eu olhei errado na estatística. Tu tem razão, Palmeira! Foram 25 pessoas que viram esse post, na verdade. Quer dizer, mais ou menos porque eu vim aqui umas duas ou três vezes e tu veio duas tb... hehehe

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  7. Eu adorei o post!!!! Li com muito atraso, mas é que a correria não está permitindo algo mais rápido...
    Esse é um assunto muito interessante mesmo e um problema em muitos casos. A generalização de um fato para um povo inteiro é sempre complicado. Por exemplo, acabo de pegar nojo dos Gregos! hehehehe
    Beijão, Banana!

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